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Já sabemos que o treino de força é extremamente importante para a nossa saúde, especialmente quando praticamos um esporte tão exigente quanto a corrida. Correr não demanda apenas esforços dos membros inferiores, mas exige do corpo como um todo. Claro, pés, panturrilhas e joelhos são os que mais recebem o impacto, e não é por acaso que essas articulações são as mais suscetíveis a lesões.
Se você é do tipo que começa apenas pela corrida, precisará de uma maior aderência ao fortalecimento para evitar lesões, já quem já incorpora o treino de força em sua rotina pode correr com mais segurança, pois sua musculatura estará desenvolvida. O importante é evitar abusos, ter cautela com os desafios como correr mais rápido, distâncias maiores do que o corpo está preparado ou não permitir uma recuperação completa e, assim, reduzir o risco de lesões.
A inclusão de um programa de treinamento de força é essencial para promover economia de movimento e reduzir o consumo de oxigênio, graças ao ganho de força dos membros inferiores. Quem não quer correr 5 a 10 km com menor desgaste? A realidade é que, seja para distâncias curtas ou longas, temos limitações próprias do corpo.
A média da distância que corredores amadores normalmente percorrem é entre 10 e 20 km por semana; corredores mais avançados, frequentemente, ultrapassam esse valor.
Princípios básicos do treinamento de fortalecimento
O treinamento de força não é apenas sobre aumentar a musculatura, mas sim sobre melhorar a funcionalidade do corpo, otimizando o desempenho na corrida e prevenindo lesões. Nesta seção, vamos abordar os fundamentos essenciais para um bom treino de fortalecimento para corrida.
1- Benefícios do fortalecimento muscular para corredores
O fortalecimento muscular oferece inúmeros benefícios para quem corre:
- Melhoria da performance: Músculos mais fortes se traduzem em deslocamentos mais eficientes, diminuindo o desperdício de energia. Isso significa que, ao fortalecer os músculos dos membros inferiores e do core, o corredor consegue manter uma passada mais constante e econômica.
- Prevenção de lesões: Lesões como fasceíte plantar, canelite, tendinite patelar, síndrome do trato iliotibial, lombalgias e dores no quadril são comuns entre corredores que não fortalecem adequadamente sua musculatura. Ao aumentar a força e a resistência dos músculos, esses riscos são significativamente reduzidos.
- Aumento de explosividade e potência: O aumento de força está diretamente associado ao ganho de desempenho. Com músculos mais fortes, as contrações são mais poderosas e explosivas, melhorando a aceleração e a capacidade de enfrentar desafios, como correr mais rápido ou em terrenos irregulares.
- Economia de despejo de energia: Com o fortalecimento, os músculos se fadigam mais lentamente. Isso significa que a biomecânica do movimento se mantém mais consistente ao longo da corrida, reduzindo o risco de sobrecarga e lesões.
2- Anatomia e biomecânica da corrida

Para entender como o fortalecimento pode ajudar, é fundamental conhecer os principais aspectos da anatomia e da biomecânica da corrida:
- Anatomia do corredor: Os músculos mais exigidos incluem o glúteo máximo e médio, quadríceps, isquiotibiais, sóleo e gastrocnêmio essenciais para absorver o impacto do pé no solo. Além disso, os músculos do core, eretores da coluna e o tibial anterior desempenham papeis críticos na estabilidade e na manutenção da postura durante a corrida.
Biomecânica da corrida: A corrida pode ser dividida em diferentes fases:
- Fase de apoio: o contato inicial do pé no solo, que pode ocorrer pelo calcanhar, meio do pé ou antepé.
- Fase de voo: momento em que o pé fica fora do solo.
- Recuperação: ocorre quando há flexão do joelho para encurtar a perna e facilitar o próximo movimento.
- Avanço e preparação: etapas que preparam o corpo para o novo contato com o solo, controlando o impacto e mantendo o alinhamento.
3- Periodização e progressão no treino de força
A periodização é um princípio crucial para o sucesso do treino de fortalecimento para corrida. Ela consiste em planejar as variações de carga, volume e intensidade dos exercícios, de maneira que o corpo evolua sem sofrer sobrecarga. Alguns pontos importantes:
- Estabelecimento de ciclos de treinamento: Divida o treinamento em fases por exemplo, fase preparatória, fase de desempenho (competitiva) e fase de transição ou recuperação. Cada ciclo deve ter metas específicas e um aumento gradual de intensidade.
- Progressão gradual de cargas: Seja no treino realizado em casa com o peso corporal ou na academia com pesos livres e máquinas, é fundamental aumentar gradualmente a carga, evitando riscos de lesões e promovendo ganhos hipertróficos que preservam a massa magra.
- Integração com a rotina de corrida: A periodização deve ser compatibilizada com a rotina de treino de corrida. Nos dias em que o foco é a musculação, essa sessão deve vir antes da corrida, garantindo que o desempenho na corrida não seja prejudicado pela fadiga prévia.
Uma periodização bem estruturada permite que o corredor evolua de forma contínua, melhorando a força e a resistência sem comprometer a qualidade técnica e a recuperação muscular.
Exercícios e rotinas de treino
Após compreender os princípios fundamentais do fortalecimento para a corrida, é hora de conhecer os exercícios que compõem uma rotina de treino eficaz. Aqui, dividimos as atividades em quatro grandes grupos para facilitar a aplicação prática.
1- Aquecimento e preparação neuromuscular
Nenhum treino seja de força ou de corrida deve começar sem uma fase de aquecimento adequada. Essa etapa é crucial para reduzir o risco de lesões e preparar os músculos para o esforço.
Sugestão de aquecimento:
- Aumento da temperatura corporal: Realize uma caminhada rápida ou um trote leve por aproximadamente 2 a 5 minutos. Movimentos dinâmicos, como saltos no lugar, também são eficazes para elevar a temperatura do corpo.
- Exercícios de mobilidade dinâmica: Dedique de 5 a 7 minutos a exercícios que envolvam a elevação de joelhos, a aproximação dos calcanhares aos glúteos e a mobilização do quadril (para frente, para trás e de lado). Isso ajudará a ativar as articulações e melhorar a amplitude do movimento.
- Ativação específica: Inclua exercícios como skipping (passos curtos e rápidos), Drill A e sprints progressivos durante 3 a 5 minutos. Esses movimentos preparam a musculatura para os esforços intensos que virão durante a sessão de fortalecimento e, posteriormente, na corrida.
2- Exercícios de fortalecimento centrais
O core é a base de um corredor. Um core fortalecido contribui para:
- Estabilidade e equilíbrio: Reduz o tronco, assegurando uma postura correta durante a corrida e economizando energia.
- Prevenção de lesões: Um core robusto distribui de maneira uniforme a carga do impacto e mantém a estabilidade do corpo durante os movimentos.
Exercícios recomendados:
- Prancha frontal e lateral: Mantenha a posição por 30 a 60 segundos, focando no alinhamento do corpo. Alterne entre a prancha frontal e lateral para trabalhar diferentes músculos abdominais e estabilizadores.
- Russian twist: Execute este exercício com ou sem peso, promovendo a rotação do tronco para aumentar a força dos músculos oblíquos.
- Bird Dog: Na posição de quatro apoios, estenda alternadamente o braço e a perna opostos, auxiliando na coordenação e na ativação dos músculos estabilizadores da coluna.
3- Trabalho de força para membros inferiores

Os músculos dos membros inferiores são os principais responsáveis pela potência e absorção de impacto na corrida. Fortalecê-los é vital para:
- Melhorar a economia de movimento: Movimentos mais eficientes e contrações mais potentes ajudam a reduzir o esforço durante a corrida.
- Prevenir lesões: Membros inferiores fortalecidos abalam menos com o impacto repetitivo, diminuindo as chances de problemas na tíbia, joelhos e tornozelos.
Exercícios essenciais:
- Agachamento: Um exercício clássico que trabalha quadríceps, glúteos, isquiotibiais e músculos estabilizadores. Pode ser realizado com o peso do corpo, com halteres ou com barra, conforme o nível de preparo.
- Afundo (Lunge): Trabalha cada perna de forma individual, melhorando equilíbrio, coordenação e força. Experimente variações: afundo caminhando ou estáticos.
- Step-up (Subida de escadas): Simula o movimento de subida, fortalecendo quadríceps, glúteos e posteriores de coxa. Realize de forma controlada, focando na ativação do músculo.
- Elevação de calcanhar: Fundamental para fortalecer as panturrilhas (sóleo e gastrocnêmio), melhorando a estabilidade do tornozelo e a propulsão na corrida.
- Stiff e Flexão de joelho com bola suíça: Visam os isquiotibiais, auxiliando na absorção de impacto e na produção de força para a parte posterior das pernas.
4- Exercícios de mobilidade e flexibilidade

Para um treino de fortalecimento para corrida ser completo, os exercícios de mobilidade e flexibilidade devem fazer parte da rotina, garantindo:
- Amplitude de movimento: Músculos e articulações mais flexíveis permitem uma passada mais fluída e reduzida aderência ao solo.
- Prevenção de rigidez e lesões: Alongamentos regulares ajudam a prevenir a tensão muscular e melhoram a recuperação após os treinos intensos.
Exercícios recomendados:
- Alongamentos estáticos: Após o treino, execute alongamentos dos principais grupos musculares (panturrilhas, quadríceps, isquiotibiais, glúteos e músculos do core) mantendo cada posição por 20 a 30 segundos.
- Mobilidade dos tornozelos: Movimente o tornozelo em todas as direções, flexão dorsal, plantar, inversão e reversão para melhorar o controle fino da passagem e a estabilidade.
- Exercícios com elásticos e bola suíça: Essas ferramentas podem ajudar a realizar movimentos dinâmicos que promovem tanto a mobilidade quanto a ativação muscular de forma funcional.
Colocando em prática
Cada corredor tem seu ritual e preparação antes de correr, e o treino de fortalecimento para corrida deve ser integrado a essa rotina com cuidado e consistência. Aqui estão algumas dicas práticas:
- Frequência: Realize exercícios de fortalecimento de 2 a 3 vezes por semana, alternando com os dias de corrida. Em dias de treino de força, é recomendado realizar o fortalecimento primeiro e, depois, a corrida ou ajustar conforme a sua prioridade de treino.
- Atenção ao aquecimento: Nunca subestime a importância de um aquecimento completo. Dedique de 10 a 15 minutos para preparar o corpo aumentando a temperatura, mobilizando as articulações e ativando os músculos específicos.
- Individualize o treino: Cada corredor possui necessidades específicas. Se você sente desconforto em alguma área (como os joelhos ou a região lombar), ajuste os exercícios e priorize os movimentos que ajudem a equilibrar a musculatura e melhorar sua biomecânica.
- Consistência e progressão: Comece com cargas e volumes acessíveis, aumentando gradualmente conforme sua capacidade de força e resistência. A periodização adequada ajuda a evitar estagnações e lesões.
- Recuperação e alongamento: Dedique alguns minutos após o treino para um alongamento completo. Isso ajudará a reduzir a tensão muscular, prevenir dores e melhorar a recuperação para os próximos treinos.